2010-05-25

"Relatos dos voluntários da AMI em diversos pontos do mundo"

"Parti em missão para Cabo Verde com o meu marido ( também enfermeiro ) e com os meus dois filhos ( Ana Cristina de 2 anos e João Miguel de 4 anos ). As crianças depressa se ambientaram, aprenderam o crioulo e fizeram amigos entre a criançada da vizinhança. Como estavam já habituadas à cor achocolatada da raça negra, pois temos vários amigos africanos em Portugal, nunca tinham comentado ou feito perguntas acerca da cor da pele. Um dia, quando pela centésima vez disse ao meu filho que pusesse o boné porque o Sol estava muito forte, ele olhou-me muito sério e perguntou:
«Oh mãe ... tu gostas de meninos pretos ?»
A minha alma caiu-me aos pés, pois comecei logo a imaginar que alguém andara a incutir ideias racistas na cabecinha do meu filhote. Mas respondi com a calma de que fui capaz:
«Gosto, filho! De meninos negros, brancos, amarelos, vermelhos, grandes, pequenos, gordos, magros ... mas porque é que perguntas ?»
«É que os meus amigos são pretos e agora que eu já sei falar crioulo, nunca mais ponho o boné porque também quero ser preto e virar crioulo. Assim, o Sol ta 'quemá-me e um dia m'ta' será criol. "


Relato de Inga Butt e Maria Glória Durão Butt em Cabo Verde in "Histórias para não adormecer - Relatos dos voluntários da AMI em diversos pontos do mundo"

´O Verão`

«No Verão devíamos, não por imposição legal mas por serena disciplina interior, ser obrigados a perder-nos. A perder-nos no que nos rodeia. ...