2010-10-28

"Sinto Muito" de Nuno Lobo Antunes

Comecei hoje à tarde a ler o livro "Sinto Muito" de Nuno Lobo Antunes. Um livro difícil de ler. Não digo difícil por ter palavras difíceis. Não. Digo difícil ao nível das emoções. Porque me é difícil não chorar em alguns relatos que o Médico de neuro-oncologia pediátrica, Nuno Lobo Antunes, tão bem faz.

Excerto do livro, págs. 27/28:
"Na história da minha existência estão cravados os anos que passei nos EUA em neuro-oncologia pediátrica...,.... Após sete anos de intensa vida hospitalar, em que a violência das emoções atingia, todos os dias, dimensões de drama, a vida surge distorcida. Era um dia-a-dia de derrotas, em que mesmo as vitórias não podiam ser inteiramente celebradas, porque a eminência de uma recaída pairava no ar até ao fim da vida...,....Lembro-me que de férias em Portugal, admirava as crianças a brincar na praia porque já me tinha esquecido de que podiam ser felizes e saudáveis. Em cada cara buscava sinais de dor, em cada corpo estigmas de quem sofreu os efeitos da doença ou do seu tratamento...,... Muitos me perguntavam como era possível conviver diariamente com o desgosto. A resposta é simples: é um privilégio poder conhecer a humanidade no seu melhor, na Coragem, mas sobretudo, no Amor.
... Lembro-me de Perez, um rapaz de 15 anos que cansado das náuseas e da dor, desistiu do tratamento para viver, o melhor que podia, os meses que lhe restavam. A mãe aceitou sem discussão a opção do filho. Despediu-se do emprego para gozar com ele a Vida. Tivemos o último encontro num jardim de NY, em Outubro, num daqueles dias excepcionais em que o sol abre as cortinas do Inverno. Dia apropriado para um encontro que era, simultaneamente, uma separação. Despedimo-nos com um abraço e um sorriso: até breve. Naquele momento, o tempo não teve dimensão."

                                            "Sinto Muito" de Nuno Lobo Antunes

Depois de ler este livro, vou aprender com certeza, a relativizar muitos problemas do dia-a-dia que não passam, muitos deles, de meras banalidades.

´O Verão`

«No Verão devíamos, não por imposição legal mas por serena disciplina interior, ser obrigados a perder-nos. A perder-nos no que nos rodeia. ...